Texto escrito em 06/02/2008. Fatos fictícios, porém a história é verídica sobre como eu me sentia na época.
O despertador do celular toca. Ainda virando de um lado para o outro da cama, procuro encontrar o maldito e barulhento celular está.
Logo acima da minha cama, contém uma prateleira onde deixo livros favoritos como: A Arte da Guerra, As Cem Melhores Histórias da Mitologia Greco-Romana, O Código da Vinci, Anjos e Demônios, Além do Bem e do Mal, O Vendedor de Sonhos, entre outros. O celular se encontrava ali.
Levantei com tudo para pegá-lo e desligar aquele toque terrível de campainha. Levantei tão rápido e alto, que bati a cabeça e, o celular bem na beirada, caiu sobre mim.
Senti minha cabeça latejar e pedi a Deus pra não criar um calo. Desliguei o despertador. Eram 07:40. Da minha casa até o trabalho, na época, era questão de 20 minutos e eu entrava no serviço as 10. Então porque diabos o celular me acordou as 07:40? Eu nem me lembrava tê-lo colocado pra despertar tal horário. Vai entender.
Mesmo assim levantei com dificuldade, pois a intenção era levantar as 08:30. Fui tomar banho e sentindo aquela água bater em meu rosto, deixei pensamentos fluírem na mesma proporção da água. A dor na cabeça já passava, porém, a malvada indecisão subia-me a mente junto com um jeito confuso que eu tenho. Eu, Flávio Galindo, refém das minhas próprias escolhas.
Saí do banho e me troquei rapidamente. Minha mãe apareceu na cozinha quando fui tomar café as 08. Ela notou algo estranho: eu estava comendo um pão sem margarina e detalhe maior era que o pão era do dia anterior e estava quase duro. Logo percebeu que eu viajava por entre nuvens num espaço chamado Eu Mesmo.
– Bom dia filho – cumprimentou, sentando-se de frente para mim – realmente eu viajava e apenas acenei com a cabeça. – Tá tudo bem? – como resposta, novamente balancei a cabeça.
Mentir para a própria mãe é algo impossível. Eu levantei os olhos e encontrei os dela. Seu rosto me trazia sua voz: “Você realmente não esta bem.” Não agüentando mais tal silêncio constrangedor, acabei desabafando:
– Ok, eu não to bem – ela já sabia então se arrumou mais na mesa para me ouvir. – Eu to comendo um pão duro de ontem ,bati a cabeça ao levantar, tomei um banho gelado, coisa que nunca faço e agora, minha mente está a mil.
– O que te incomoda?
– Tudo, ou nada, eu não sei. Minha vida mãe. Incomoda como minha vida esta mudando, como hoje tenho responsabilidades, sentimentos, como me preocupo com os outros. Sabe mãe – eu larguei o pão duro em cima da mesa –, ás vezes eu só queria voltar a ser uma criança que não entendia como o mundo era difícil.
– Você não pode fugir de seus problemas, filho. Se você os criou, você deve continuar.
Olhei bem para aquela face sincera. Eu estava muito sério.
– Mesmo que isso seja magoar pessoas que você ama? – perguntei.
– Isso é sempre difícil pra nós. Fazer escolhas. Filho, ás vezes temos de sacrificar muito, porém, temos de ver se será um sacrifício válido.
– E como fazer para ver isso?
– Conhecendo.
– E quando se trata de duas pessoas?
Minha mãe agora havia expressado um “já sei de tudo”.
– Então você quer dizer que está em um muro, mas não sabe pra que lado pular? E você conhece bem essas duas pessoas?
– Eu não conheço bem nem a mim mesmo – respondi ironicamente e ela sorriu. Procurou estudar como eu estava me sentindo. – Mãe, uma vez um amigo meu me disse que agimos muitas vezes apenas com a mente, e muitas outras apenas com o coração. Ele disse também que o melhor jeito de agir, é juntando o coração e a mente numa só decisão.
– E pelo jeito, você está com uma no coração e com outra na mente, certo?
– Exato – enfim chegamos ao ponto crucial.
– Ok filho, então vamos estudar a situação. Há quanto tempo você conhece a pessoa que está na sua mente?
– Bom, creio que quase dois anos.
– E a pessoa que está em seu coração?
– Menos de um – respondi.
– E quando começou a conhecê-las melhor?
– Questão de meses. Na verdade, a pessoa que está em meu coração, começou a conquistá-lo de uma forma estranha, diferente e bonita. Moramos longe e somos jovens e percebemos que a amizade queria ganhar cores. Eu tava com minha ex ainda. Quando terminei com a ex, a pessoa que mora na minha mente, me pegou de surpresa e me apeguei muito a ela. E nesse meio tempo, a que mora no meu coração estava longe, mas só foi ela voltar e os meus sentimentos adormecidos se afloraram. As coisas certas acontecem em momento errados, mãe.
– Entendido. Você não está com a pessoa do seu coração, porque não quer machucar e porque se apegou a pessoa da sua mente. Mas filho parece que você está com dó da garota. Dó de terminar com ela e vê-la sofrer.
– Não é dó mãe e ela não será a única a sofrer.
– Não venha com essa, você estará praticamente trocando-a por outra. Você irá ficar mal por dias, mas ela ficará por meses.
Nós dois nos calamos por um breve espaço de tempo, até o momento em que pousei minha cabeça por entre meus braços na mesa.
– Dá vontade de sumir.
– Arque com suas consequências, filho.
– Eu não me arrependo de nada, mãe, nada mesmo. Mas é o que eu disse e volto a repetir: as coisas certas acontecem em momentos errados.
– Porque você não junta pela primeira vez na vida, a sua mente e seu coração? Assim fará a decisão certa e não haverá momentos errados.
– É porq... é... – eu gaguejei. – eu... eu tenho medo.
– O medo só nos faz impedir de tentar. E você precisa arriscar mais, igual fez ao terminar com sua ex. Você sabia que não tava certo e não queria mais viver aquilo. Machucaram-se, claro, mas foi passageiro. A gente sofre apenas se a gente quiser... e você está sofrendo com essas indecisões.
– É mãe, mas nada me garante que agora será igual.
– Você começou a namorar sério, digamos que com 17 anos, mas em compensação, isso só te trouxe pessoas que queriam algo sério com você, o que resultou e resulta na pessoa que está aqui do meu lado hoje: confusa consigo mesma, medo de machucar sentimentos e pessoas, mas por este motivo, se auto apunhala – baixei a cabeça, ainda mais pensativo. – O tempo o tornou fraco, meu filho.
– Não mãe – levantei a cabeça –, não me tornou fraco. Me tornou uma pessoa que guarda muito pra si; me tornou alguém que se alegra com a felicidade alheia, mesmo estando bem ou não; me tornou alguém que se preocupa com sentimentos. Eu confio nas pessoas, mas nem tanto pra contar meus segredos. Muitas vezes eu nem confiei em você, mãe. Não te disse muitas coisas que deveria.
– E porque hoje você me diz esse assunto?
– Porque quero voltar a acreditar que tenho uma mãe que pode me ouvir e me aconselhar, independente de eu estiver certo ou errado. Não quero só uma mãe, quero uma amiga. Uma melhor amiga.
Houve mais uma nova pausa em que a mente da minha mãe funcionava a 300 por hora. Ela me olhou com um rosto sério que, logo foi trocado por um sorriso amigável.
– Creio que conheço a dona do seu coração.
– Sim mãe, é ela mesmo.
– Eu sabia – bateu palma. – Vocês acreditam no destino?
– Até demais.
– Filho, com o tempo você terá sua resposta. Haverá de vir à luz que você precisa pra te iluminar. Você só precisará segui-la e passar pelos obstáculos.
– Me responde uma coisa: você acha que sou igual ao pai? Digo, em relação a relacionamentos e em como tudo termina?
– Bom, o filho tem merdas semelhanças com o pai, mas você é muito diferente dele para com mulheres, apesar de você ainda ter que tomar muito juízo e ser mais positivo consigo mesmo. Mas te deixo um conselho: se não quiser perder todas as mulheres de sua vida, nunca toque a mão em uma que não seja para amá-la!
– Será um conselho que vou seguir.
– Eu sei que vai.
– É realmente a vida é feita de mudanças, boas ou ruins e ás vezes, as duas juntas – ambos concordamos.
– Só tenha a cabeça no lugar e aja com sabedoria. Quando for a hora certa, junte o coração e a mente e decida.
– O ruim é saber à hora certa, mãe.
– Fica tranquilo, você irá saber à hora certa. Virá de dentro de você, ou quem sabe já chegou e você ainda não percebeu. Que não seja tarde demais. Ninguém vai esperar pra sempre por suas decisões. As pessoas sempre querem ares novos para respirar e um dia se enchem de esperar.
– Quer dizer que devo deixar a pessoa do meu coração viver a vida dela e tentar esquecer-se de mim?
– Não filho. Disse apenas que tem que decidir enquanto pode.
Peguei meu celular no bolso. Era pouco mais de 9 horas e eu já tinha que ir trabalhar. Despedi-me dela e fui ao trabalho.
Foi uma ótima conversa que me rendeu muito. Fui todo o caminho pensando nas sábias palavras de minha mãe. Foi a primeira vez que tive uma conversa com ela em que fui ouvido e escutei.
Minha cabeça ainda continua a mil, mas eu só sei de uma coisa: o que quer que aconteça, nunca deixarei de te amar.
F.S.G.
B.M.G.
N.A.M.
Osasco, 06 de Fevereiro de 2008